ENTREVISTA

“Hoje em dia é fundamental que o autor saiba trabalhar muito bem sua rede social”

Nosso repórter especial Gabriel Mendes entrevistou Bruno Zolotar, gerente de Marketing e vendas da Rocco, durante a Bienal do Livro de São Paulo.

PANORAMA DA ESCRITA: A primeira pergunta que eu quero fazer é sobre a Bienal. Qual é a sua avaliação dos primeiros dois dias? Qual é a sua expectativa para os próximos dias e as tendências da Bienal de 2024?

BRUNO ZOLOTAR: Ontem, no segundo dia, eu percebi a confirmação do crescimento da Bienal de São Paulo, porque, historicamente, a Bienal do Rio sempre foi maior, sempre vendeu mais, sempre teve mais público. A Bienal de São Paulo 2020 foi muito boa e pelo que eu vi nesse um dia e meio, eu acho que essa vai ser melhor ainda. Também estou notando uma mudança, a maioria do público é feminino, tem muito livro para o público jovem. Também tem muito autor independente aqui, com público e filas. Acho isso muito interessante, ver autores independentes, fazendo coisas de marketing, tendo filas enormes. Eu acho que isso é um pouco a tendência dessa Bienal.

PANORAMA DA ESCRITA: Nosso site é voltado para escritores, qual conselho você daria para o escritor que está ali no início da sua carreira? Como que ele pode aproveitar da melhor forma uma Bienal do livro?

BRUNO ZOLOTAR: O primeiro conselho que eu dou sempre é escrever e fazer autopublicação. A gente estava mencionando sobre essa questão: não adianta você ter um monte de livro na gaveta. A Bienal, dentre outros eventos, ajuda esses autores a construir uma reputação ao longo do tempo. Aos pouquinhos você vai fazendo coisas que vão consolidando o seu nome como autor. Além de se autopublicar e participar de eventos como a Bienal, você pode fazer uma edição impressa, mesmo que pequena e que você venda pouco, para poder entrar num estande para fotografar e divulgar nas redes sociais. Para começar, mesmo que seja para vender pouco, acho importante. Eu acho que a Bienal faz parte desse ecossistema de construção da reputação de um autor.

PANORAMA DA ESCRITA: E pensando no escritor que já tem um livro publicado, qual é a melhor estratégia para conseguir entrar no circuito, participar dos eventos, das palestras que acontecem na programação oficial da Bienal?

BRUNO ZOLOTAR: Além de ter uma obra, hoje em dia é fundamental que o autor saiba trabalhar muito bem sua rede social. Tem autor que não gosta, fala que não leva jeito, mas  talvez tenha um sobrinho, um primo, alguém que tenha intimidade com rede social, porque eu acho importante o dia a dia com o leitor e como o autor é visto. Isso é realmente fundamental hoje em dia.

PANORAMA DA ESCRITA: Você falou no final da palestra que você também leciona alguns cursos. Você pode falar um pouco mais sobre quais são esses cursos e por que eles ajudariam na carreira de escritor?

BRUNO ZOLOTAR: Eu tenho dois cursos. Um curso que se chama “Marketing 360° para o Mercado Editorial”. Este curso é interessante para o autor porque ele dá uma visão geral de como funcionam as editoras, como é que você pode fazer um título mais vendedor, porque sabemos que o título influencia muito nisso, também aborda como é que se faz uma edição com a cara do seu público, que tem mais o jeito que ele quer; como é que funciona a questão da divulgação dos livros. Dá uma visão geral, fala de evento, fala de assessoria de imprensa, da questão de edição, da distribuição e venda de livros no Brasil, ele é mais geral.

Um outro curso é o “Gestão de redes sociais para autores e editores”, que é um curso onde mostro meu trabalho como gestor de marketing das minhas próprias redes sociais. Então eu mostro o que é importante pra mim, como é que a gente cria conteúdo, quais são as redes que você deve trabalhar.

PANORAMA DA ESCRITA: Tem a ver com posicionamento também?

BRUNO ZOLOTAR: Tem a ver mais com estratégia e uma coisa que eu acho fundamental para o autor, que é como é que ele constrói, no médio e longo prazo, uma comunidade em torno dele.

PANORAMA DA ESCRITA: Você falou também uma coisa interessante sobre a questão do agente literário, a importância de um agente. Pode explicar um pouco mais por que um escritor deveria buscar um agente?

BRUNO ZOLOTAR: No mercado editorial dos Estados Unidos, desde os anos 60 tinha agente literário, que é uma espécie de empresário do autor. Isso cresceu muito no Brasil a partir dos anos 2000. Demorou um pouquinho para crescer, mas cresceu muito. Muitos autores começaram a ter os agentes e o agente entrou na relação do autor com os editores.

O que eu acho importante é que o agente ganha tempo para o autor. Ele sabe quais são as editoras que trabalham com livros do nicho do autor e conhecem elas de perto, então eu acho que ele queima etapas. Não é um milagre, é um facilitador porque as editoras hoje, por exemplo a Rocco, têm livro para dois anos, existe uma fila de publicação e as pessoas estão muito sem tempo. Então, o agente já pensa “isso aqui tem cara da Rocco”, ”isso aqui tem cara da Pensamento”, ”isso aqui tem cara da Planeta”, por aí vai.

PANORAMA DA ESCRITA: E para finalizar hoje uma pergunta em relação à Editora Rocco. Tem algum título que você apostaria na força de vendas esse ano ou algum gênero que você acredita que tenha uma tendência maior para o 2024?

BRUNO ZOLOTAR: A gente está apostando muito na ficção coreana, que a gente vê crescendo, mas estamos apostando muito nos autores jovens, que fazem literatura para o público jovem, que é o público que vem para a Bienal. Estamos investindo nisso e vendo que está funcionando bastante, porque os autores, além de escrever bem, eles também têm uma força em rede social, então isso ajuda bastante.

redação

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