Nesta entrevista, conversamos como o editor e escritor Bogado Lins, um dos maiores especialistas em organização de antologias da atualidade. Ele fala sobre seu novo projeto, a antologia @normal. Também explica um pouco o seu critério para selecionar os autores, sua experiência com escritores internacionais e seus planos para abrir uma Escola de Escrita.
1- Como surgiu a ideia de produzir uma antologia com textos sobre a Pandemia de Covid-19?
O início da pandemia deixou a todos nós meio atônitos. Eu fiquei durante um tempo e sei que muitos ficaram. Além de escritor, trabalho com publicidade principalmente na área de eventos, aliás o meu sustento, e vi todos meus clientes tiveram grande dificuldades. Óbvio que isso refletiu em mim, veio aquele momento de pensar “o que estou fazendo da vida”. Quando você não tem nada a perder, vem ideias poderosas. Pensei, esse é o momento de fazer uma coletânea sobre o assunto, registrar de alguma forma. Já tinha feito antes com a parceria do Guilherme Tolomei e resolvi acioná-lo para dar suporte nessa iniciativa. Ele ainda me ajudou também a chegar no tema ideal sobre o assunto, o mundo pós-pandemia, o novo normal, o @normal, enfim. Está aí o resultado.
2- Uma das maiores dificuldades de fazer uma antologia é selecionar os autores. Como foi o critério para essa escolha?
A agilidade que a iniciativa exigia demandava que iniciasse com escritores dos nossos contatos. Mais uma vez, o Guilherme Tolomei foi muito importante com sua experiência editorial. Iniciamos o contato com autores que tínhamos certeza que poderiam topar a iniciativa, tivessem estilos diferentes e estivessem inteiros.
A partir do processo de desenvolvimento de estratégia, em especial do evento on-line, fui tendo oportunidade de conhecer novos autores, que se somaram e pouco a pouco chegamos nesse formato.
Creio que uma coletânea, até por minha experiência anterior do “Último Livro do Fim”, deve conciliar escritores com bagagem com novos expoentes com potencial, até para oxigenar a literatura e acho que trouxemos isso nesse livro.
3- Você optou por publicar apenas em livro eletrônico e não em livro físico. Algum motivo em especial?
Sim, desde o início foi uma estratégia. Primeiro pela agilidade. Queria que este livro fosse lançado o mais rápido possível. Acho necessário até, uma escrita contemporânea, que dialoga com o próprio tempo.
Outro ponto foi o custo. Não fizemos e nem poderíamos fazer grandes investimentos e desde o início a intenção fosse manter um valor baixo. Durante o período de lançamento, que será até o fim de setembro, ele será por R$ 8,00 e isso foi possível pelo formato e também pela natureza da iniciativa.
4- Esta já é sua segunda antologia com autores internacionais. Quais os maiores desafios desta empreitada?
É importante ter a ousadia de convidar. Na primeira antologia, convidei diversos autores. Obviamente a língua é um empecilho. Os contatos são mais formais e é importante mostrar o potencial da iniciativa. Isso tudo gera um contato mais extenso e, claro, com um processo as vezes maior de aproximação, até de negociação. Geralmente, é recomendado tempo até para esse processo.
Nesta antologia, preferi convidar novamente os que estavam mais próximos e mantive relacionamento. Um deles é o Sebastian Ocampo que, além de autor premiado, edita a Revista Y em Assunção – aliás participei de uma antologia com ele “Pelota Jara”, sobre contos no universo futebolístico. Sua revista tem grande alcance na América Latina. Outra é a Claudia Apablaza que, além de vários livros publicados no Chile e em outros países como EUA, Itália, Espanha, México, é ganhadora do Prêmio Alba.
Por último, Sebastian me indicou um jovem talento paraguaio que enviou um texto muito sensível e que achei de bom grado publicar, o Jose Bueno Villafane. O nome do texto é “O Mais Importante”
5- Essa antologia também inaugura sua editora LiteraturaCotidiana. Quais são os próximos lançamentos? Qual será seu diferencial?
Mais que uma editora, prefiro pensar o Literatura Cotidiana como um canal. Ainda estamos começando e temos muito o que avançar nesse sentido. Temos os perfis nas redes sociais, o blog que já contamos com colaboração de alguns escritores. Esperamos ter mais novidades em breve.
Sobre os projetos, temos, mas é bom não antecipar porque ainda estão em fase de amadurecimento. O principal deles é continuar veiculando conteúdo relevante nos canais, as vezes referente a literatura em geral. Prefiro nos enxergar como um canal que tem uma editora, do que uma editora que, eventualmente tem um canal.
6- Uma das coisas que mais chama a atenção na sua antologia foi fazer com que os textos tivessem uma leitura dramatizada. Como foi essa experiência? Como os autores reagiram a essa proposta?
Foi uma experiência incrível, e está sendo, porque o lançamento continua. Teremos novos eventos no dia 22, 24 e 29 de setembro com leituras dos demais autores. Os atores serão os mesmos e tiveram acesso aos textos desde o início.
Dentro das nossas condições, buscamos cuidar ao máximo dos detalhes. Claro, que não somos profissionais em vídeo, nem tampouco tivemos grandes equipamentos e a pandemia não permite aproximação, gravações ao vivo, etc. Peço para quem veja o vídeo, relativize esses aspectos. É um substitutivo ao lançamento ao vivo.
Enfim, muito difícil. Testamos formatos, a gravação cai de repente por causa da internet. Pensa como vai colocar a Câmera. É preciso persistência. E, se possível, queria registrar um agradecimento aos atores Gloriete Luz, Lúcia Romano, Marta Guerreiro, Nora Prado, Roberto Alencar e Ricardo Gelli. Acreditaram no projeto desde o início.
7- Há uma grande crise no mercado editorial, como o fechamento de livrarias e o baixo índice de leitura. Além de publicar livros, o que o escritor pode fazer para modificar esse cenário?
Bom, difícil dizer. Eu desde o início me lancei na publicidade meio que à força (risos). Conciliei a literatura com essa carreira que mantenho até hoje. Atuo escrevendo roteiros de eventos para grandes empresas, vídeos e redação publicitária em geral.
Na minha humilde opinião, quem quer viver de escrita, tem que enxergar a escrita como uma ferramenta multimídia. Creio que os autores que reuni são exemplos disso, além de escritores, tem atuações em outras áreas. Temos o Clark Mangabeira que é enredista de escola de samba, Terêncio Porto envolvido em diversos projetos audiovisuais, Pacha Urbano que é ilustrador e quadrinista, Solano Guedes que também é artista plástico. Não estou dizendo que isso é uma regra, mas acho que é um caminho e que me identifico, ainda que o que faça profissionalmente tenha um caráter mais profissional do que artístico.
8- Você também tem planos de abrir uma escola online para escritores. Como seria esse projeto?
Há muitas conversas nesse sentido. A ideia seria reunir eventualmente estes e outros autores para dar suporte, procurar possibilidades na escrita. Enfim, é um projeto em gestação.