ENTREVISTA

Quadrinista fala como conseguiu 400 mil fãs

O nosso entrevistado da semana é o talentoso quadrinista e escritor Pacha Urbano criador das Traumáticas Aventuras do Filho do Freud, uma tirinha com mais de 400 mil fãs no Facebook. Ele nos explicou um pouco do seu processo criativo, como conseguiu ser publicado e falou das suas inspirações.  Vale muito conferir  esse papo: 

1-      Pacha, como você começou a se interessar por quadrinhos? Conte-nos um pouco da sua infância e como você descobriu a sua vocação de artista. Sempre teve estímulo dos pais?

Aprendi a ler muito cedo porque fui alfabetizado pela minha mãe em casa. Mas o acesso aos livros era muito restrito. Livro era luxo. Daí as revistas em quadrinhos e seção de tirinhas dos jornais serem uma solução mais barata para uma criança praticar a leitura. E foi assim, lendo revistinhas do Tio Patinhas, Turma da Mônica e mais tarde os quadrinhos da Marvel e DC que encontrava usados por aí na rua ou em sebos. Venho de uma família paupérrima, onde desenhar jamais seria uma opção profissional viável. Naquele então, década de 80, subúrbio e periferia do Rio de Janeiro, as referências de ilustradores e quadrinistas estavam todas na televisão: Ziraldo, Daniel Azulay e Maurício de Souza. Todos completamente fora da minha realidade. Inatingíveis. Então desenhar, como sempre fiz, era algo muito estranho e tido como uma curiosidade, algo inusitado, mas que passaria em algum momento, como costuma ser na maioria das vezes, já que a nossa educação formal reprime o hábito das crianças de desenhar substituindo-o pela escrita forçada. Só que no meu caso não aconteceu, continuei desenhando quase que clandestinamente. Em dado momento, por conta das condições em que vivíamos, minha mãe apontou um norte: “Se quiser ser desenhista vai ter que trabalhar para pagar seus estudos.” E aos quatorze anos fui trabalhar para custear meus cursos profissionalizantes no SENAC. E daí até hoje. 

2-      Como surgiu a ideia de criar “As traumáticas Aventuras do Filho do Freud”?

Curso Pedagogia na Unirio, uma federal aqui do Rio de Janeiro, e durante uma aula de Psicanálise e Educação, a professora exibiu uma cinebiografia do Freud – aquele filme do John Huston de 1962 – e em dado momento eu pensei: “Deve ter sido um saco ser filho desse cara.” E tive aquele estalo. Tirei da mochila meu caderno de desenhos e rabisquei a que seria a primeira tirinha da série Filho do Freud, onde o seu primogênito vai todo contente exibir sua fantasia e o velho Freud lhe ridiculariza. O menino diz que o odeia e o doutor arremata: “Eu sei.” A partir dali passei a fazê-las diretamente no computador e publicá-las no Facebook, e não demorou muito caiu nas graças das pessoas.

3-      Como é o seu processo para criar a piada das tirinhas?

Não há uma receita de bolo. A ideia poderia surgir no meio de uma conversa com uma pessoa, ou poderia ser durante um filme que eu estivesse assistindo ou um livro que estivesse lendo. Mas quando vinha eu precisava agarrá-la rapidamente e testá-la no formato tirinha, porque evanesce muito rápido. Acontece que eu não fazia quadrinhos de humor. Sempre admirei (e invejei) os colegas quadrinistas que trabalham esse formato e têm produções colossais, constantes, diárias. Fazer humor sem resvalar no preconceito ou no lugar comum – principalmente em tempos de internet e o constante plágio de ideias – é um desafio imenso. Fui investigar sobre a mecânica por trás da tira de quadrinho e de humor, e também investigar o próprio conceito de humor. Eu já havia lido as obras completas do Freud nos anos 90, mas era recreativo, uma curiosidade. Daí resgatei essas leituras e fazia várias vezes esse trajeto de revisitar a obra dele e dali entender os conceitos e confrontá-los com humor. Para minha sorte, enxergo no Freud uma ironia bem particular, principalmente quando ele se defende ou coloca na berlinda seus opositores teóricos, mas mais ainda quando relatas casos e mais casos nas notas de rodapé de suas obras. Trouxe muito disso para meu processo de criação das tirinhas da série.

4-      Você tem mais de 450 mil fãs na sua página no Facebook do “Filho do Freud”.  Fez anúncios pagos? Contratou uma agência de mídias sociais? Como conseguiu esses números?   

Tudo aconteceu organicamente, de maneira fluida. Publiquei a primeira tirinha, as pessoas foram curtindo, compartilhando, depois a segunda, a terceira, a quarta, na décima terceira eu já estava sento convidado a participar de um simpósio na UNESP, depois entrevistas, e uma avalanche de curtidas na página e nas publicações. Em algum momento eu perdi o controle e parei de contar. Não queria que o volume de leitores influenciasse a minha produção. Meus compromissos com o trabalho eram dois: manter a regularidade das publicações (toda terça-feira a partir das 13h) e fazer tirinhas que não desrespeitassem as pessoas e profissionais da Psicanálise. Depois de um tempo consegui aumentar a periodicidade para dois dias na semana, terça e quinta, e isso ajudou muito a aumentar o número de leitores. Ver as pessoas marcando seus amigos, professores, parentes, nas tirinhas, compartilhando em grupos de Psicologia e Psicanálise, foi o que considerei fundamental para esse volume de seguidores. Nunca paguei por anúncios no Facebook.

5-      Como você conseguiu publicar seu livro? Chegou e enviar o original? Trabalhou com agentes literários?

Havia enviado o original do meu primeiro livro de mini contos – Vidas Despercebidas – para uma editora e não avançado nas negociações de publicação. Anos depois, quando as tirinhas do Filho do Freud já estavam caminhando e com um número grande de leitores, algumas editoras me procuraram para publicá-las, mas eu tinha pouquíssimas ainda, não fazia volume para um livro. Fui negando, desconversando, até que um dos sócios da editora para quem apresentei o original do Vidas me procurou, agora em outra editora, e fez uma oferta modesta, porém interessante, se propondo a esperar que eu reunisse um número suficiente de tirinhas, me dando liberdade total para pensar no projeto gráfico do livro. Só então eu topei e com eles publiquei dois volumes com coletâneas das tirinhas. Agora estou sondando a agência Página 7 para apresentar os originais de alguns projetos que tenho em mente para o público jovem adulto. As primeiras conversas me encheram de entusiasmo e me apontaram numa direção bastante interessante.

6-      Os fãs dos quadrinhos costumam fazer muitas loucuras. Qual foi a coisa mais inusitada que aconteceu com você?

Meu público não é majoritariamente de quadrinhos. Posso afirmar que mais de 80% dos leitores e leitoras do Filho do Freud são das áreas de Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, o meio acadêmico. São esses meus principais interlocutores e é para eles a quem me dirijo e sempre fiz questão de deixar vários canais de acesso para entrarem em contato comigo. Já recebi vários emails e mensagens privadas pelo Facebook com propostas estranhas de parcerias, declarações de amor, e também de ódio de grupos religiosos e políticos. Entretanto, a coisa mais esquisita foi quando numa das noites de lançamento do volume 1, uma leitora pediu para que eu desenhasse um falo no autógrafo. Levantei a cabeça do livro e disse que não havia entendido o que ela tinha dito. Ela reafirmou, muito séria, que queria que eu desenhasse um falo, um pênis mesmo, e que era para eu dedicar ao marido dela. Atendi ao pedido com a melhor poker face que eu pude fazer, mas por dentro estava rindo de me escangalhar e louco para comentar com alguém. Claro que isso virou tirinha e entrou no segundo volume.

7-      Recentemente a Amazon disse que a “área de quadrinhos” é um destaque nas vendas da loja. Como você vê o atual cenário de quadrinhos no Brasil? A Comic Shop ainda têm relevância? 

A Amazon faz promoções com preços baixíssimos se comparados aos das livrarias, além de oferecer pré-vendas, descontos nos envios. É claro que o público leitor de quadrinhos vai deitar e rolar ali (eu deito e rolo). Tanto o leitor médio, que consome super-heróis e demais enlatados estadunidenses ou japoneses, como o que vai atrás de algo mais alternativo, autoral. Para os autores nacionais o momento está bastante aquecido: a produção de quadrinhos vem aumentando, o número de eventos onde esses autores podem apresentar suas obras para novos leitores também e, com as redes sociais, fazendo circular melhor as obras, as trocas de informação, e formação de coletivos de artistas. Apesar de ser ainda muito autofágico o consumo, com quadrinistas consumindo de outros quadrinistas, a internet ajudou muito as obras a alcançarem mais pessoas que jamais olhariam para a prateleira da seção de quadrinhos da livraria do shopping. As lojas especializadas em quadrinhos, as gibiterias, ainda são muito dedicadas a escoarem os enlatados que mencionei, principalmente porque é o mais conhecido pelo público, portanto mais vendável, embora sejam muito simpáticas a eventos de lançamentos, conhecem bastante do que vem sendo produzido no Brasil, o que é sempre ótimo para iniciar novos leitores, e a maioria topa receber material independente em esquema de consignato. Uma pena que sejam tão poucas. Poderiam ser como o Mundo Verde, em que cada bairro tem um.

8-      Você ainda vê um certo preconceito no fato de muita gente considerar quadrinhos inferior à literatura? Aliás, muita gente também considera quadrinhos coisa de criança, não é?

Tá aí algo que é difícil de responder, mas que sempre vem à tona. Essa é uma comparação equívoca na fonte. Só porque tem texto é para compararmos com a literatura? Cinema tem atores interpretando papéis assim como o teatro (a TV, a radionovela etc), e também evocam essas comparações, não é? E as pessoas não chegam a lugar nenhum. Os quadrinhos são uma mídia própria, com seus códigos semióticos, suas práxis, suas estruturas tão particulares que não cabem comparação razoável com outras mídias. Além disso, o quadrinho pode prescindir do texto escrito. Pode prescindir do texto escrito inclusive na elaboração da narrativa: o quadrinista pode desenhar diretamente quadrinho a quadrinho, página a página, sem precisar escrever uma letra sequer num roteiro, sem qualquer coisa escrita. O formato impresso talvez gere esse equívoco, some-se a isso a insistência que temos em chamar de “novela gráfica” (graphic novel) as histórias em quadrinhos de temática adulta, numa de tentar desvincular de algo cômico ou infantil. Coisa lá do Will Eisner. Outra questão é que quando falamos em quadrinhos a maioria das pessoas evoca a Turma da Mônica como sua principal referência. Nossa cultura e língua infantiliza tudo ao colocar palavras no diminutivo, daí esse reforço de ‘quadrinhos’, -inhos, como algo para crianças, enfim, podemos enumerar aqui muitos fatores que reforçam isso. Entre os leitores e profissionais de quadrinhos essa questão é superada porque sabe-se distinguir muito bem o que é e o que não é para criança. Mas veja: para muita gente ainda é nebuloso isso. Tive que colocar uma observação quanto à indicação de idade a partir de 16 anos no livro do Filho do Freud. Meus personagens foram desenhados para parecerem bem simples e cartunescos, o que confunde as pessoas, fazendo-as achar que são para criança. E definitivamente não são.

9-      Você acha que os quadrinhos são bem trabalhados no ensino fundamental ou no ensino médio? Eu, por exemplo, nunca fui estimulada a ler quadrinhos na escola pelos professores…

De forma alguma. São sempre paradidáticos. Com exceção de ações muito isoladas, que partem de professoras e professores mais familiarizados, os quadrinhos são sempre usados para ilustrar um conceito ou ideia, jamais como uma mídia própria, que pode ser explorada de diversas formas. Não nos estimulam a ler e nem a fazer quadrinhos na escola. Poderíamos usar essa mídia para aprendermos matemática, física, biologia, língua portuguesa, ou seja, qualquer disciplina, não só como suporte de leitura, mas através do fazer o quadrinho, do pensar narrativamente, da distribuição dos quadros na página, da preparação das artes, de repente da própria tinta e meio de reprodução dessa HQ. Sou sempre chamado para aplicar oficinas de quadrinhos e algumas escolas me convidam justamente para desmistificar esse fazer quadrinhos e envolver os estudantes nesses processos multidisciplinares. É divertidíssimo e sempre gratificante ver o momento exato quando a pessoa – tanto estudantes quanto professores – olha para a coisa toda e tem aquele vislumbre: “Nossa, eu realmente posso fazer isso!” Ainda mais hoje com tantos recursos disponíveis.

10-   O Brasil tem a sua “Disney brasileira” que seria a “Turma da Mônica”. Com tantos talentos espalhados, você acha possível criarmos uma Marvel Brasileira? Por que isso  não aconteceu até agora?

Nós ensaiamos algumas vezes publicações mais regulares com autores brasileiros, mas de fato é a Maurício de Souza Produções quem se mantém firme no mercado editorial, empregando e formando profissionais, adaptando a Turma da Mônica para outras mídias, outros tipos de produtos. Durante os anos 60, 70 e 80 as bancas tinham quadrinhos brasileiros de vários gêneros – de super-heróis a pornográficos – até que uma sucessão de crises econômicas foi podando essa árvore até quase matá-la. Angeli, Laerte e Glauco tiveram seu momento nos anos 90 e deu uma reacendida; vieram as Bienais de Quadrinhos no Rio de Janeiro, vários autores produzindo fanzines, algumas revistas surgindo, e chegamos a acreditar que voltaríamos a ter um mercado com outros players além do MSP. Depois tudo é limbo. E nos últimos dez anos é que ressurgiu essa chama de produzir, publicar e consumir. Estamos começando a subir essa ladeira ainda, não sabemos o que vamos encontrar lá em cima. Pessimistas dizem que somos Sísifos. Não sei. Quero acreditar que esse processo de autopublicação e o surgimento de editoras exclusivas de quadrinhos possa mudar isso em médio e longo prazo. Precisamos de mais do que uma Marvel, DC ou Image brasileiras, precisamos sim de muitas editoras, mas precisamos mais ainda é de potenciais leitores, novos leitores de quadrinhos, gente que queira ler material escrito, desenhado e editado no Brasil. Atualmente somos muitos quadrinistas praticando antropofagia e um público começando a olhar para a gente e achar legal. Só se faz mercado de quadrinhos com público leitor.

11-   Você também tem um trabalho como escritor.  Como o quadrinista influencia o escritor e vice-versa?

Minhas aventuras na escrita começaram através da crônica. Comecei a brincar com isso logo que pude ter acesso mais constante à internet quando fui trabalhar numa revista virtual em 2001. Criei um blog e ali jogava coisas sobre o cotidiano, episódios no transporte público que via e me inspiravam a escrever. Passei a brincar com vários gêneros e também a trabalhar a concisão. Sempre gostei de contos e crônicas, e encontrei nos blogs uma excelente maneira de praticar a escrita e receber retorno das pessoas. Comecei então a escrever mini contos no estilo dos do Kafka, e micro contos no estilo do guatemalteco Monterroso, fui me divertindo. Desses exercícios é que nasceu o Vidas Despercebidas, meu primeiro livro, onde reuni cem mini contos em diversos gêneros. A prática da escrita concisa me ajudou demais a pensar e estruturar melhor o gênero tirinhas de quadrinhos. O espaço limitado de quadros, a piada em três, quatro atos, as frases curtas e objetivas, os silêncios provocadores, enfim, a coreografia que havia aprendido dançando com o mini e micro conto. E sem sombra de dúvidas que a necessidade de criar imagens sugestivas e fluxos narrativos com ganchos sucessivos para agarrar a atenção do leitor, tão fundamentais nas histórias em quadrinhos, me ajudaram a escrever melhor.

12-   Dá pra viver como artista, escritor e quadrinista, no Brasil?Essa é a pergunta que todos nós que somos quadrinistas, escritores, ilustradores, músicos, atores, poetas, artistas de maneira geral, nos fazemos ao levantar da cama e irmos para nossos empregos em outras áreas.

13-   Quais são as suas principias influências atualmente? Quem te inspira?  Na literatura sempre foi o Luis Fernando Veríssimo, acho que pela maneira como consegue nos prender a cada frase. É um autor que volta e meia releio, assim como o Saramago, que mora no meu coração. O Kafka. Kafka é generoso com o leitor, ele não quer que você o abandone por causa de escolhas ruins de palavras ou estruturas complicadas demais. E aí eu lembro do Tchekhov, que é outro autor que trabalha bem a concisão. Mas aí recentemente eu li Margaret Atwood e a invejei profundamente. Frases e passagens incríveis que eu gostaria de ter escrito. Tinha sentido isso antes só com o Mutarelli, com o Ricardo Labuto Gondim e com o Marçal Aquino. Nos quadrinhos eu sou admirador do trabalho obsessivo de Chris Ware. Queria poder ler mais coisas dele mas não há quase nada no Brasil. O francês David B. é outro que merecia mais obras publicadas aqui, assim como os portugueses José Carlos Fernandes e Paulo Monteiro. Alison Bechdel e Marjane Satrapi são outras duas em quem sempre penso. Ambas tratam com muita paixão a questão autobiográfica. Nas tiras de humor acho que o argentino Liniers é um excelente norte.

14-   Você tem algum projeto futuro na área de  quadrinhos ou de literatura?Estou com um romance indo e voltando da gaveta para minha mesa de trabalho. É literatura fantástica, com algo de apocalíptico. Esse escrever e tornar a escrever me ajuda muito a revisitar aquele mundo e tirar toda a gordura desnecessária do texto e das várias narrativas que se sobrepõem à história central. Também tenho estudado muito sobre antropologia para conseguir abarcar tudo o que essa história vem pedindo. Nos quadrinhos estou escrevendo um roteiro baseado em eventos sobrenaturais acontecidos no século XIX numa cidadezinha na França e será desenhada por um quadrinista que admiro tremendamente, o Victor Moura. Os personagens e acontecimentos dessa HQ repercutirão em outras histórias que estão sendo desenvolvidas para outras mídias, como contos, audiossérie e um jogo. Será o meu maior desafio para o próximo ano: conseguir fazer uma boa conexão entre essas histórias e esses personagens. Todas levemente baseadas em fatos. Também ilustrarei um livro infanto-juvenil do autor Ricardo Labuto Gondim, que tem previsão de lançamento para 2018.

15-   Há algum artista que você destaca nos quadrinhos brasileiros?Meu quadrinista brasileiro favorito – e que também se tornou meu escritor favorito – é o Lourenço Mutarelli. Uma pessoa que admiro muito desde muito tempo e com quem sempre aprendo algo novo ao revisitar suas obras. Mas hoje há tantos outros. Laerte, que cada dia se torna melhor. Seu filho Rafael Coutinho, também com um trabalho muito bacana. A quadrinista Lovelove6, autora da Garota Siririca, a quem sigo e tento adquirir tudo o que publica. Leonardo Finocchi, Rafael Sica, Laura Athayde, Diego Sanchez, Mary Cagnin, Laura Lannes, Will Leite, Cora Ottoni, Luisa Lacombe, Denis Mello, Ana Recalde, Julia Bax, Cristina Eiko, Alexandra Moraes, Bruno Maron, tanta gente incrível e com um trabalho estupendo nessa geração que você fica de queixo caído a cada um que surge. Todos com estilos bastante diferentes entre si. Estamos transbordando de talentos.

16-   O catarse hoje tem sido um ferramenta muito utilizada por quadrinistas  pra criar projetos.  A que você atribui esse fenômeno?  O Catarse é a prova de que há uma produção acontecendo independentemente do interesse das editoras. Pensem na quantidade de investimento que foi vertido por todas as pessoas que apoiaram projetos editoriais de quadrinhos ali nos últimos anos. Muitos com primeira, segunda, terceiras edições financiadas através da plataforma sem qualquer atravessador, sem qualquer intermediário entre o público leitor e o artista senão a plataforma de financiamento coletivo do Catarse. É achance para que autores que seriam completamente ignorados por grandes, médias ou pequenas editoras, serem apoiados e publicados por quem vai ler suas obras. Nosso problema crônico é a distribuição. Precisamos de melhores sistemas de distribuição de livros no Brasil. Os que existem são vorazes, leoninos. As livrarias também vão lá e mordem 50% de cada exemplar vendido e cobram por lugares estratégicos de exposição do material etc, impraticáveis para autores independentes. Aqueles problemas todos que já sabemos. Os autores acabam tendo que escoar seus estoques em várias feiras literárias, de impressos e de quadrinhos Brasil à fora. Isso pode gerar despesas imensas para os autores, é o ônus da coisa, e o bônus é criar novas redes de artistas, novos grupos, e formar novos leitores em cada oportunidade. Estou com uma campanha no Catarse para o terceiro volume do Filho do Freud justamente por não ter encontrado respaldo editorial para apostar no livro. O sucesso que a campanha vem fazendo é a prova de que a confiança na obra pelos leitores é que tornam o livro possível.

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