Por Ângelo Alvarez 23/07/2020
Para muitos escritores, terminar um livro é uma batalha tão íntima quanto épica. Muitas vezes, o inimigo não é a falta de ideias ou de tempo, mas sim um duo formidável que reside dentro de nós: o perfeccionismo e a síndrome do impostor gerando o que chamamos de Dilema do Labirinto. Estes dois não apenas caminham juntos mas se alimentam mutuamente, criando um ciclo de dúvida e procrastinação que pode paralisar até os mais talentosos autores.
O perfeccionismo nos diz que nada menos do que a perfeição é aceitável. Virginia Woolf, em seu diário, confessou frequentemente sua luta contra o perfeccionismo, que a impedia de se sentir satisfeita com seu trabalho. Essa busca incessante pela obra perfeita é uma batalha perdida; a perfeição, como conceito absoluto, é inatingível. Este sentimento é ecoado nas palavras de Anne Lamott em “Bird by Bird”, onde ela argumenta que o livro nunca ficará perfeito até o escritor terminar.
A Síndrome do Impostor Entre Escritores
A síndrome do impostor é aquele sentimento persistente de que você não é bom o suficiente, de que seu sucesso é imerecido ou apenas fruto de sorte. Maya Angelou, apesar de sua extensa lista de publicações e prêmios, confessou sentir-se uma fraude que seria descoberta a qualquer momento. Essa síndrome pode fazer com que escritores hesitem em compartilhar seu trabalho, temendo que seus temores de inadequação sejam confirmados.
Como o Perfeccionismo e a Síndrome do Impostor Se Alimentam
Esses dois fenômenos criam um ciclo vicioso: o perfeccionismo leva a um medo de falhar, que por sua vez alimenta a síndrome do impostor. Isso pode fazer com que o escritor adie indefinidamente a conclusão de seu livro, sempre encontrando “mais uma coisa” que precisa ser aperfeiçoada. Stephen King, em “Sobre a Escrita”, fala sobre a importância de superar esses medos para concluir um trabalho, enfatizando a necessidade de ser prolífico e persistente, apesar das dúvidas internas.
O Dilema do Labirinto
O dilema do labirinto é aquele ponto muito comum entre os escritores , geralmente resultado do perfeccionismo e da síndrome do escritor, onde o autor se acha perdido no próprio texto. Kafka em seus diários lutava para conseguir colocar um livro no mundo. Ele era tão inseguro que pediu que seu editor queimasse todos os seus rascunhos caso ele morresse da doença que o castigava. Mas ele não o fez e hoje temos livros que são um dos melhores da humanidade.
Cinco Soluções para Superar o Perfeccionismo, Síndrome do Impostor e o Dilema do labirinto
- Estabeleça Prazos: Defina prazos para si mesmo, mas sejam eles realistas. Lembre-se de que um livro não precisa ser perfeito. Margaret Atwood, autora de “O Conto da Aia”, fala que o prazo é a maior das musas inspiradoras.
- Tenha mentores de escrita e leitores beta : Envolva-se com outros editores, mentores e escritores que possam oferecer feedback construtivo e apoio emocional. Ernest Hemingway acreditava no valor de ter um bom grupo de colegas escritores, a quem ele poderia recorrer para críticas honestas e incentivo.
- Faça revisões ao final: Agatha Christie dizia que o ideal era fazer revisões apenas dos capítulos anteriores ao que ela escrevia e no final do livro em uma leitura integral. Se ficasse fazendo revisões nos primeiros capítulos no meio do livro, tinha muita dificuldade de terminar a obra.
- Tenha uma roteiro flexível de escrita: Ter um roteiro do que você vai escrever desde o inicio te ajuda muito a não ter insegurança na escrita.
- Aceite e Abrace suas Imperfeições: Reconheça que o perfeccionismo e a síndrome do impostor são sentimentos comuns entre os escritores. J.K. Rowling falou abertamente sobre suas lutas com a dúvida e como ela teve que persistir apesar delas para terminar a série “Harry Potter”. Ao terminar ela odiou o livro e se perguntava muitas vezes quem leria aquele “lixo”. Aceitar que a imperfeição faz parte do processo criativo pode libertar você para concluir seu livro.
Conclusão
A jornada para terminar um livro é repleta de obstáculos internos, mas lembre-se de que você está em boa companhia. Escritores de todas as eras lutaram e superaram esses mesmos desafios. Ao enfrentar o perfeccionismo e a síndrome do impostor, não com resistência, mas com aceitação e estratégias adaptativas, você pode não apenas terminar seu livro mas também encontrar alegria no processo criativo.