ENTREVISTA

“É importante que o autor tenha um público interessado e que saiba se comunicar bem”

Gabriel Mendes entrevista a agente literária Alessandra Ruiz, que fala sobre o papel essencial de um agente literário e a importância de se profissionalizar como escritor, incluindo investir em marketing pessoal e buscar se destacar em eventos, como a Bienal.

Panorama da Escrita: Qual é a importância da Bienal para um escritor?

Alessandra Ruiz: Eu acho que a Bienal é muito legal para um escritor, principalmente o iniciante, porque permite ter uma percepção real do mercado editorial como um todo. Aqui, temos um encontro de editores, vendedores, autores e leitores – uma verdadeira junção de todos os elos da cadeia editorial. Mesmo que muitos não estejam presentes ou não se identifiquem, dá para sentir o que é uma editora. Na livraria, nem sempre temos acesso a todos os títulos do catálogo de uma editora, mas aqui é possível ver isso de perto. Dá para entender mais sobre o que cada editora publica e seus selos.

Para o autor iniciante, especialmente para quem publica de forma independente ou quer publicar, a Bienal é uma oportunidade de ver o perfil das editoras e entender onde ele se encaixa. Você vai encontrar desde editoras religiosas até quadrinhos e cordéis, então é uma variedade muito maior do que o que vemos em uma Amazon ou livrarias menores. Isso expande a visão do mercado e ajuda o autor a se posicionar melhor em sua carreira.

Panorama da Escrita: O que uma agência literária busca em um escritor, além da qualidade literária?

Alessandra Ruiz: Uma agência literária, em geral, não busca autores que ainda estão no começo da carreira, mas sim aqueles que já estão decolando, com um bom conteúdo. No fundo, os agentes buscam o mesmo que os editores: um conteúdo original, autoral e em sintonia com o mundo atual. Também é importante que o autor tenha um público interessado e que saiba se comunicar bem, seja nas redes sociais ou em plataformas como Wattpad ou KDP.

Eu costumo dizer que, antigamente, as pessoas precisavam publicar para serem lidas, mas hoje é possível ser lido antes mesmo de publicar. A aceitação do público é o melhor editor. Se muitos leitores se interessam pelo conteúdo de um autor, isso já é um ótimo crivo. Nessa fase, o agente pode entrar para ajudar a lapidar o trabalho e apresentá-lo para editoras maiores, que têm a capacidade de alavancar a carreira do escritor.

Panorama da Escrita: Como você explica o fato de que o mercado editorial brasileiro, sendo tão grande, ainda tem tão poucos agentes literários? E o que exatamente um agente faz pelo escritor?

Alessandra Ruiz: A falta de agentes literários no Brasil é um reflexo da baixa profissionalização do mercado. Em mercados maduros, como nos EUA, há milhares de agentes. Aqui, temos entre 20 e 30. Quando abri minha agência em 2018, eram cerca de 10, então dobramos, mas ainda estamos começando. Além disso, não há uma formação formal para ser agente literário no Brasil. A maioria dos agentes aprende na prática, trabalhando com outros agentes ou com uma forte experiência no mercado editorial.

Nos mercados internacionais, os agentes conseguem fechar contratos que incluem adiantamentos de direitos autorais, o que permite que o autor dedique tempo à escrita sem precisar de outras fontes de renda. Aqui, essa tradição não existe. Sem adiantamento, muitos agentes não conseguem viver apenas do agenciamento e precisam ter outras atividades. É um trabalho de longo prazo, mas acredito que, com o tempo, veremos mais agentes surgindo no Brasil.

Panorama da Escrita: Houve reclamações de que, na Bienal, muitas vezes são chamados os mesmos autores consagrados para o circuito oficial. O agente pode ajudar um escritor em início de carreira a entrar nesse circuito?

Alessandra Ruiz: Com certeza. Eu e outros agentes já colocamos vários autores nesses eventos. Quem é visto é lembrado, e faz parte do processo de profissionalização ter um bom marketing pessoal. É importante ter uma boa presença online, saber falar bem e defender seu trabalho. Assim, os organizadores de eventos começam a perceber quais autores podem se destacar em uma fala pública e convidá-los para participar de eventos como a Bienal.

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